A perícia em dispositivos móveis é uma área especializada da perícia forense digital focada na coleta e análise de evidências de smartphones, tablets, smartwatches e outros aparelhos portáteis. A onipresença desses dispositivos os tornou repositórios de informações pessoais e de atividades que são cruciais em investigações criminais e cíveis. O grande desafio dessa modalidade de perícia é lidar com a rápida evolução tecnológica dos sistemas operacionais e a diversidade de aplicativos, que exigem metodologias e ferramentas específicas para cada modelo de aparelho.
Os smartphones, em particular, armazenam uma vasta quantidade de dados que são extremamente sensíveis e relevantes. Mensagens, registros de chamadas, histórico de localização, fotos, vídeos, notas e interações em redes sociais são apenas alguns exemplos do tipo de evidência que pode ser extraída. A análise desses artefatos digitais é vital para a reconstrução de eventos e para a comprovação de fatos.
Desafios Técnicos e a Diversidade de Sistemas Operacionais
A principal dificuldade na perícia de dispositivos móveis reside na variedade de sistemas operacionais e na segurança cada vez mais sofisticada que eles oferecem. A fragmentação entre iOS e Android, por exemplo, exige que os peritos dominem diferentes técnicas de extração e análise. Enquanto o Android, por ser de código aberto, permite mais flexibilidade, o iOS, com seu ecossistema fechado, impõe barreiras significativas, como a criptografia forte e as restrições de acesso a dados.
Além da diversidade de sistemas operacionais, cada fabricante de hardware implementa suas próprias modificações, o que complica ainda mais o trabalho do perito. O acesso a dados pode ser bloqueado por senhas, biometria (impressão digital ou reconhecimento facial) ou criptografia de disco. Superar essas barreiras requer o uso de ferramentas forenses especializadas e a adoção de técnicas avançadas para garantir que a prova seja coletada sem alterações.
Metodologias de Extração e Análise
A coleta de dados de um dispositivo móvel deve seguir uma metodologia rigorosa para garantir a integridade da prova e a cadeia de custódia. O processo geralmente envolve a criação de uma imagem forense do aparelho, que pode ser de três tipos:
- Extração lógica: Coleta de dados visíveis e acessíveis, como contatos, mensagens e calendário. É a mais simples e menos completa.
- Extração de sistema de arquivos: Permite o acesso a dados não visíveis ao usuário, como arquivos de configuração de aplicativos, cache e registros do sistema.
- Extração física: Cria uma cópia bit a bit de toda a memória do dispositivo, incluindo dados apagados ou ocultos. É a extração mais completa e a preferida na perícia.
Após a extração, o perito utiliza softwares especializados para analisar e categorizar as informações. Essas ferramentas são capazes de reconstruir conversas, mapear a geolocalização do usuário, recuperar arquivos de mídias e identificar padrões de comportamento que seriam impossíveis de detectar a olho nu.
A Importância dos Dados de Aplicativos e sua Validação
Os aplicativos instalados nos dispositivos móveis são uma fonte riquíssima de evidências. Eles geram dados que podem ser decisivos em uma investigação, como histórico de localização de aplicativos de transporte, mensagens e mídias de aplicativos de comunicação, e registros financeiros de aplicativos bancários.
A validação desses dados é uma etapa crítica. O perito precisa garantir que as informações extraídas de um aplicativo são autênticas e não foram manipuladas. Para isso, são utilizadas ferramentas que decompõem o banco de dados do aplicativo e examinam sua estrutura interna, comparando com dados de outras fontes, quando possível. A integridade desses dados é fundamental para que eles sejam aceitos em juízo.
Conclusão
A perícia em dispositivos móveis é uma área em constante evolução, que se adapta aos avanços tecnológicos para garantir que as evidências digitais sejam coletadas e analisadas de forma confiável. A diversidade de sistemas, as barreiras de segurança e a vasta quantidade de dados gerados pelos aplicativos representam desafios complexos que exigem do perito um alto nível de especialização e o uso de metodologias e ferramentas avançadas. O respeito à cadeia de custódia e a validação técnica das evidências são requisitos inegociáveis para que a prova obtida de um dispositivo móvel tenha valor jurídico e contribua para a busca da verdade.